sexta-feira, 24 de abril de 2020

ANIVERSÁRIO DE MORTE DE NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA (DIONÍSIA GONÇALVES PINTO) - HÁ 135 ANOS...

Texto: Luiz Carlos Freire (Facebook)

"Então após viver as experiências mais intensas de educadora e escritora, no Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro... após suas posições pioneiras de feminista, abolicionista e indigenista, após a defesa da causa republicana e de outras áreas do conhecimento, ela alça voo altaneiro até o berço da civilização. Diferente do olhar preconceituoso e mesclado de tabus sentidos em sua pátria - salvas as devidas exceções - na Europa ela foi enxergada como intelectual de igual para igual (E o era!). Logo ela está dialogando com Duvernoy, Alexandre Herculano, Manzoni, Azeglio, Comte, Castilho, Victor Hugo e outras figuras de grande repercussão até os dias atuais. De seus 76 anos ela viveu 28 anos no Velho Mundo, respeitada, frequentando todos os ambientes que aflorasse o conhecimento. Na França e Itália, em especial, ela experimentou a glória como pensadora, sendo aplaudida e reverenciada nos ambientes acadêmicos, inclusive ter seu legado transformado em notícia em jornais, inclusive num periódico de Nova Iorque, Estados Unidos. Peregrinou sua sede de conhecimento pelas terras da Bélgica, Alemanha, Suíça, Grécia, Inglaterra e Portugal. No Vaticano foi recebida em audiência pelo Papa. Por onde passava, olhava os cenários com a visão apurada dos grandes jornalistas, filósofos, sociólogos, escritores... e com a dádiva de poeta de notável sensibilidade. Nada lhe passava despercebido: o modo de vida das mulheres; em especial, aos comportamentos sociais, ruínas, cemitérios, folclore, natureza, misérias, riquezas, abismos sociais, universidades, centros de humanidades etc etc etc... Certa vez, sofreu um acidente de trem e saiu ilesa. Como agradecimento a Deus pelo que considerou milagre (Nísia era católica), doou tudo o que  trazia  em suas  bagagens, em se tratando de dinheiro e joias, a uma casa de amparo às pessoas em situação de extrema pobreza.  Isso era Nísia Floresta. Mas tudo passa... a velhice chega, e é IMPLACÁVEL! Então, já cansada e desgastada, de certo modo cansada e solitária, pois sua única companhia era Lívia, a filha, ela se recolhe numa cidade medieval minúscula. Era vizinha de Flaubert (só não sei se se conheceram - ambos não falam disso em seus legados, nem em suas cartas/memórias, mas suponho, pois a obra de Flaubert, como Madame Bovary, com certeza a agradou). Isso é uma suposição minha. Que fique claro. Pois bem, alí ela se recolhe numa casa modesta e desfruta as agruras da pior idade. No dia 24 de abril de 1885, toda a sua vida desaparece para ocupar única e exclusivamente a sua obra, a propósito, de singular importância. Era dia chuvoso, conforme revela o calendário da época. As honras fúnebres foram providenciadas por Lívia, a qual morrerá menos de trinta anos depois, e se aninhará ao seio da mãe no mesmo túmulo. Sessenta e nove anos depois, após as buscas incessantes pelo seu túmulo, Orlando Dantas finalmente localiza o ninho fúnebre onde repousava, intacta, a grande brasileira (Ela havia sido embalsamada a pedido, supondo um dia ser reivindicada pelos seus compatriotas). E finalmente "ela retorna" ao Brasil, onde uma multidão formada por gente de vários estados a aguardava. Ocorreram solenidades no Pernambuco. Ela dizia que sentia Pernambucana (creio que devido a tal província ter sido berço de suas principais publicações, onde ela conheceu o grande amor de sua vida - suposição  minha). Seus despojos receberam homenagens em Natal (Onde ainda teve gente que quis polemizar). Salve Chicuta Nolasco! Depois, uma massa humana escorreu até Papari, que já havia recebido o nome da homenageada. Um cônego insatisfeito celebrou a missa de corpo presente (tive a sorte de entrevistá-lo antes de sua  morte; o material está guardado). Enfim, deram fé que ao invés de ela ter chegado numa caixeta, veio num ataúde comum. Precisaram fazer de fato um túmulo tradicional. O prefeito prometeu construí-lo. Não o fez. O padre teve que aturar a pobre Nísia na porta de sua Sacristia durante certo tempo, certamente "ultrajando-o". Pois bem, passaram três meses. Houve verdadeiro imbróglio. Alguns intelectuais jogaram a toalha, se juntaram, e graças à Academia de Letras do Rio Grande do Norte o túmulo foi erguido ao lado do monumento construído quase meio século antes. Alí a nossa Nísia repousa, espremida, sufocada, ofuscada... há 66 anos...

Dedico este texto à estilista Sra. Marlene, que costurou a réplica do figurino original de Nísia  Floresta no ano de 1993, mostrado na fotografia abaixo, na pessoa da atriz brasiliense  Núbia Santana.

-   Dedico esse texto ao Dr. Ormuz Barbalho Simonetti, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, autor da obra colossal de genealogia  "Os Troncos de Goianinha", cidade potiguar onde também nasceram os antepassados de Nísia Floresta, em destaque, sua mãe Antônia Freire. Eu sempre ouvi da minha mãe a informação de nosso parentesco com Nísia Floresta. Nunca fiz disso bandeira, pois queria provas concretas. E isso se confirmou através do trabalho de mais de vinte anos de pesquisa, encampada pelo Dr. Ormuz Simonetti. Obra que aguardei com ansiedade, para poder hoje estar contando-a.

-   Dedico esse texto a minha mãe Maria Freire, 88 anos, que permitiu que a minha infância fosse embalada por episódios da História da nossa Nísia. Aos nove anos recebi dela a obra "História de Nísia Floresta", escrito em 1941 por Adauto da Câmara, e guardo esse livro como relíquia.

-   Dedico este texto a todas as pessoas que admiram a nossa Nísia Floresta e seu legado.

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