segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Professor: sinônimo de educador e construtor da liberdade.

Para refletirmos um pouco sobre nós, professores, recordo-me de uma singela poetisa mineira, Cora Coralina, que disse “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Escolhi-a porque o atual momento em que vivemos redobra a nossa responsabilidade de, não diria transferir, mas construir o conhecimento pautado pela ética e pela verdade. Mais que nunca, lembremos que somos eternos aprendizes e eternos alunos.
Com isso não estou dizendo que os professores de outrora não tivessem esse perfil, mas pelo fato de hoje ele se encontrar afogando-se em caudalosas falsas verdades, tendo ao seu lado um dos mais poderosos (e perigosos) instrumentos de informação: o computador e o aparelho de celular. Hoje, todos nós, educadores, dividimos o nosso estado de professor, com eles. Isso é bom. Isso é ruim. Temos um rival que precisa ser transformado em parceiro. Do contrário, nossas crianças, nossos jovens e adolescentes se perderão. Talvez nunca a imagem do professor fosse tão importante na nossa história.
Ao professor não está implícito ser o máximo, mas ser um profundo estudioso e observador. A grande necessidade do momento é sensatez e prudência.

A internet e o tsunami chamado “rede social” nos obrigam a aprendermos quase que na mesma freqüência de sua evolução. Precisamos estar à altura dos debates e do nível das crianças, dos jovens e dos adultos que encontramos em sala de aula. Hoje, o aluno sai de casa e deixa em seu quarto o seu “fiel professor”. E com os argumentos construídos com ele debaterá com o professor de carne e osso na sala de aula. O professor, por sua vez, terá feito o mesmo. E como ficam as “fake news” e as verdades perante ambos se as raias que a dividem são quase invisíveis?
O nosso genial – e nordestino – educador Paulo Freire, em Educação e atualidade brasileira, escreveu demoradamente sobre a educação crítica. E o que é isso diante do atual momento? Lembre-se que esse notável educador, reconhecido no mundo, escreveu muito sobre a educação pela amorosidade. E o que isso pode significar nos dias atuais, nesse momento pautado por ódios de todas as espécies?
O que precisamos dizer aos alunos do ensino infantil? O que precisamos dizer aos alunos do ensino fundamental? O que precisamos dizer aos alunos do ensino médio? O que precisamos dizer aos alunos universitários? Nossa responsabilidade é monumental, e cabe-nos o espírito de justiça e amor, mesmo sendo mal interpretados. Não importa. As verdades aparecem pós-turbulência.
As transformações de ordem geral acontecem a olhos vistos e muitas vezes assustam até os mais experientes. O que era de última geração há um ano, hoje é antigo. Mas pessoas são pessoas. História é história. Serenidade é a palavra do presente.
Ainda sobre Paulo Freire, em Pedagogia da esperança, ele escreveu: “(...) estou convencido da importância da urgência da democratização da escola pública, da formação permanente de seus educadores e educadoras entre quem incluo vigias, merendeiras, zeladores. Formação permanente, científica, a que não falte, sobretudo o gosto das práticas democráticas, entre as quais a de que resulte a ingerência crescente dos educadores e de suas famílias nos destinos das escolas...”.
Embora escrito há 30 anos, é atualíssimo, pois muitas instituições de ensino não vivenciam a plenitude da democracia. E o clima atual prenuncia uma espécie de fascismo que coloca em perigo a Educação, cujos educadores precisam ter consciência absoluta. Consciência histórica para trabalhar esses assuntos. Educação é uma peça libertária. É a excelência do conhecimento, portanto não pode ter limites, tampouco sinonímias bélicas.
Precisamos entender que nunca a educação brasileira precisou parar tanto para pensar. No turbilhão desse atual momento os ânimos estão aflorados de todas as partes. Há ódios entre familiares, entre igrejas, entre órgãos públicos, entre amigos, enfim o hoje se chama ódio. E “messias” costumam surgir exatamente nesses momentos, como já tivemos exemplos há trinta anos.
Nada é melhor e maior que a liberdade e a democracia, portanto aprendamos e reaprendamos à luz da história e dos currículos. Assim construiremos melhor o ensino e promoveremos melhor a aprendizagem.
O insigne psicólogo bielorrusso Vigotsky nos disse que “A educação pode ser definida como sendo o desenvolvimento artificial da criança. A educação não se limita somente ao fato de influenciar o processo de desenvolvimento, mas ela reestrutura de maneira fundamental todas as funções do comportamento”. Precisam mais palavras?
Diante desse dispositivo – que não se aplica apenas a criança, mas aos adultos – como fica o professor? Deve se preocupar unicamente com a educação sistematizada, ignorando a educação da vida, a educação social do aluno, os comportamentos sócio-políticos?
Estamos num novo tempo e não podemos nos “antiguisar”. Não podemos retroceder. As realidades mudam a cada segundo, assim como o próprio planeta, e cabe-nos entender as evoluções com sabedoria e serenidade.
Há anos a educação vem sendo maltratada. O próprio valor do PIB que o diga. Mas ninguém atira pedras em árvores secas. Só a educação possui o poder – através dos professores – de mudar o mundo para melhor. É exatamente por isso que a Educação e os professores são tão maltratados.
Só a educação permite dignidade. Só a Educação mata as fomes as sedes do Mundo. Por isso é tão postergada em detrimento das conveniências de muitos dos que fazem o poder.
É justamente nesse ponto que me recordo Cèlestin Freinet, o excepcional educador francês que, acredite, há quase cem anos, trouxe a imprensa para a escola, para a sala de aula. Isso é excepcional e revela o quanto somos contraditórios diante da ideia de se colocar nevoeiros dentro das escolas ao invés de luzes. Isso é excessivamente moderno quando olhamos a imprensa “fake news”. Também não me refiro à imprensa do laissez-faire. Longe dela. Vejam como as nossas responsabilidades são grandes no caudal dessas ebulições. Mas esse é o nosso papel. Olhar, entender e construir o conhecimento.
Abramos os nossos corações para a verdade. E quem nos ensina isso é a própria nossa conterrânea Nísia Floresta Brasileira Augusta. Professora, por sinal! Ícone da liberdade e dos direitos humanos. O que ela estaria dizendo hoje para nós? E para os nossos alunos?
Para quê maior inspiração no dia dos professores? Ela, que antes de a princesa Isabel nascer, já gritava aos sete cantos: “liberdade aos escravos!” Ela, que mesmo antes de os escritores indianistas serem de fato indianistas, questionava a identidade dos nossos irmãos índios, donos verdadeiros dessas terras. Selvagens? Civilizados? (Ela perguntou isso). E assim surgiu a primeira feminista do Brasil.
Nada mais significativo, nesse momento, que lembrarmos o famoso psicólogo francês Jean Piaget, o qual lutou a vida inteira contra as instituições e os preconceitos intelectuais de sua época. E são tais preconceitos que incentivam todos os demais.
O filósofo alemão Hegel, cuja obra é inspiração para todas as áreas do conhecimento (ele conseguiu esse prodígio) disse que o homem cria seu conhecimento e sua razão. Pronto! Nesse dia do professor, nesse nosso dia, olhemos para os nossos derredores, olhemos para dentro de nós, olhemos para o Brasil e reflitamos quão magnânima é a nossa missão de educar.
Eduquemos pela liberdade e pelos direitos iguais, pela amorosidade, pela justiça, pela democracia, sem temer. Aos olhos atuais, as palavras do Nosso Grande Mestre Jesus Cristo, se assemelham. Não sintamos heróis, mas professores educadores.
Vale a pena educar pela liberdade.
Educação é libertação.

Alysgardênia de Fátima Cavalcanti Marques Peixoto Freire – Pedagora, especialista em orientação educacional (UFPB); Teóloga, especialista em Bíblia (Instituto de La Sale – São Paulo), professora aposentada, ex-professora no Colégio Marista de João Pessoa e Natal, Escola Yayá Paiva e ex-diretora da Escola Maria Regina de Macedo Leite, ambas em Nísia Floresta.

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